Flores do Campo




Numa bela manhã, daquelas em que o sol brilha e a primavera incendeia os nossos corpos e nos transgride nos nossos mais rotineiros movimentos, dei por mim no Mercado. Acabara de comprar um grande ramalhete de flores coloridas, com um aroma intenso e maravilhoso, daqueles cheiros indescritíveis, cheirosos como se de uma brisa ininventada se tratasse, em que nenhum perfume descoberto até hoje, o conseguisse igualar. Aromas assim transcendentes tangem na alma feminina…
Distraída como sempre, em passo apressado na vida de afazeres, e sem me prender em demoradas conversas cordiais com quem vende, dirijo o andar de regresso ao meu adorno, imaginando como brilhariam viçosas as flores tão aromáticas e coloridas, recebendo em esplendor a chegada dos meus entes mais queridos, quando os meus ouvidos sobressaltam em exclamação vinda do mesmo lado que o ombro: - “São flores do diabo!”…

Olhei de esguelha e continuei na minha caminhada pensando em tal rosto contendo uns lábios dos quais, saíram palavras de escárnio. Nem cor, expressão ou vida naquele rosto vulgar, igual a tantos outros desfeito pelas entranhas do tempo que nos consome em cada momento. Em nada diferente às pessoas do mercado que toldam a semente, a regam, cavam e posteriormente colhem e a vendem! Exactamente igual às flores que carregavam tamanha beleza de um infinito aroma, e que, sem serem rosas, orquídeas, tulipas ou narcisos, figuraram numa beleza elevada apenas por serem umas singelas flores do campo, como poderiam ser “As Flores do diabo”?!

Carla Bordalo